UBS aponta incerteza sobre os rumos da política econômica de Trump
Os estrategistas de câmbio do UBS se lançaram no desafio de interpretar os atuais desdobramentos históricos e econômicos, com foco especial nos efeitos da chamada "Trumponomics".
No momento, cresce a incerteza em torno da direção que a política econômica dos Estados Unidos tomará, especialmente no que diz respeito à agenda tarifária do presidente Donald Trump. Essa indefinição preocupa os investidores, que enfrentam dificuldades para se posicionar. Segundo os especialistas do UBS, a falta de clareza está alimentando a volatilidade e minando a confiança nos mercados.
Diante desse cenário, Jason Draho, chefe de alocação de ativos do UBS CIO Américas, buscou compreender a essência da Trumponomics. Sua conclusão é que, mesmo dentro da própria administração Trump, é difícil identificar uma visão econômica coesa. Draho admitiu que essa é “a pergunta de um trilhão de dólares” e que, honestamente, não sabe a resposta com certeza.
Durante o primeiro mandato, Trump priorizou cortes de impostos, desregulamentação e aumento dos gastos públicos. No entanto, o cenário atual é bastante diferente. Draho observa que a abordagem do presidente agora parece mais fragmentada e indefinida, gerando confusão e apreensão, além de pressionar fortemente os mercados financeiros.
Em sua análise, as tarifas representam tanto o principal entrave quanto um fator determinante da recente fragilidade do mercado. Ele destaca que o novo pacote de tarifas recíprocas da Casa Branca é mais abrangente do que os anteriores e carece de um objetivo claro. Ainda não se sabe se essas medidas visam criar condições de concorrência mais equilibradas ou eliminar os déficits comerciais por completo.
Além disso, há contradições entre os objetivos declarados. Embora o presidente prometa reduzir o déficit orçamentário, adota políticas que podem ampliá-lo. Especialistas alertam para o risco de que cortes de impostos financiados com receitas tarifárias acabem tendo o efeito contrário ao desejado.
Outro ponto crítico é o impacto das tarifas sobre a produção doméstica de energia. O aumento no custo das matérias-primas pode comprometer esses esforços. Ao mesmo tempo, a substituição de importações por produção local (reshoring) tende a reduzir a arrecadação com tarifas. Draho avalia que isso pode levar a déficits fiscais maiores, especialmente se a receita tarifária esperada for utilizada para custear novos cortes de impostos agora.
Diante de tamanha incerteza, os mercados reagiram de forma previsível: aumentou a percepção de risco de recessão. Os preços dos títulos públicos e do dólar caíram, ampliando a sensação de pânico entre os investidores.
Para os analistas do UBS, a postura política “ideologicamente confusa” de Trump contribui para o agravamento do cenário. Nos primeiros dias de seu segundo mandato, duas visões conflitantes parecem coexistir: a linha populista do "America First" (MAGA) e a abordagem fiscalmente conservadora do modelo DOGE. Até o momento, nenhuma delas prevaleceu.
A postergação de certas tarifas e as isenções para produtos tecnológicos, como semicondutores e smartphones, indicam um lado pragmático na política de Trump. Ainda assim, a confiança dos investidores permanece baixa e a volatilidade, elevada. Draho concluiu que esperança não é uma estratégia de investimento e que a confiança do investidor continuará baixa, com mercados voláteis e provavelmente presos em uma faixa, até que haja mais clareza e coerência na Trumponomics.